24 julho 2011

Naturalmente parciais




Está lá na lei 8159/1991 o conceito de arquivo. Ele fala da produção dos documentos, da relação destes com as atividades de seus produtores e ainda trata do suporte da informação e da natureza do documento.
Os arquivos da Oyneg Schabes (Alegria do Sábado), uma organização judia clandestina do período da II Guerra Mundial, possuem todas as características do conceito da lei federal.
Mas algo chama a atenção na reportagem da revista Carta Capital (do longínquo 23 de dezembro de 2009) que fala sobre a organização. Antes de entrarmos nesse ponto "estranho" dos arquivos da Oyneg Schabes, falemos das características que o documento de arquivo possui como fonte de prova formuladas por Luciana Duranti.
Para a autora, os documentos são autênticos pois são produtos das rotinas de trabalho que consubstanciam o cumprimento de determinada função; são também naturais, uma vez que não são adquiridos artificialmente, mas sim acumulados no decorrer das tarefas administrativas, em função de seus objetos. Os documentos de arquivo são inter-relacionados, dado que só podem ser analisados em conjunto e têm voz quando vistos no todo. Um documento sozinho diz muito pouco. O registro documental é, também, único dentro da estrutura a qual pertence. Por fim, no que concerne ao processo de criação do documento, ele é, para Luciana Duranti, imparcial.
Voltando à Oyneg Schabes e oa caráter "estranho" da formação de seus arquivos, duas questões, quando confrontadas com as caracteríticas do documento de arquivo, chama a atenção: a atividade finalística, digamos assim, da organização clandestina era documentar a vida dos judeus confinados no Gueto de Varsóvia; além disso, o idealizador do arquivos estimulava, incentivava as pessoas a escrever sobre suas rotinas, suas relações pessoais, sobre o dia a dia da vida no gueto.
Pensando nas características do documento de arquivo, propostas por Luciana Duranti, e comparando com a descrição do processo de formação dos arquivos da organização judia, podemos identificá-los como naturais? E quanto à imparcialidade, como podemos avaliar essa característica em documentos produzidos com uma certa intenção a priori?
As perguntas estão lançadas. Pensemos sobre elas.

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